Serviços que antes eram rotina para a movimentação da economia e abastecimento rotineiro de insumos hoje se tornou uma questão chave para salvar vidas. Com a pandemia do coronavírus, a logística viu seu foco mudar de empresarial para humanitário, utilizando suas ferramentas, que antes usadas para otimização de lucro, para agilizar a entrega de insumos para abastecer hospitais e cidades.
“Na logística empresarial o objetivo é a otimização dos processos e melhoria da eficiência, reduzindo os custos e maximizando os lucros. Já na logística humanitária, o propósito é prestar assistência, salvar vidas e auxiliar os beneficiários. São características diferentes quanto a fornecedores, processos de seleção, homologação e negociação”, explica Pedro Moreira, presidente da Associação Brasileira de Logística (Abralog) à Intermodal.
De fato, com quase 4 milhões de infectados em todo mundo, em maio de 2020, é preciso transformar a nossa visão de sociedade e nossa abordagem do comércio exterior. O vírus, apesar de seus impactos negativos, vem nos mostrar que estamos todos conectados e, com a intenção correta, conseguimos superar esta crise.
“Em uma situação como agora, em que precisamos de máscaras e respiradores, é preciso buscar por doações e novos fornecedores sem depender tanto de acordos prévios, já que é preciso suprir a população rapidamente. Enquanto a logística tradicional tem contratos definidos, a humanitária pode durar semanas ou meses”, conclui Pedro Moreira.
Novos caminhos logísticos pela humanidade
A evolução que o comércio exterior já vinha sentindo, com a aplicação de tecnologias de inteligência artificial para a maior rapidez de processos e segurança da informação, hoje se intensifica com a necessidade intensa de agilidade para a entrega de insumos, especialmente os hospitalares.
Nesse momento, a crise impulsiona a criatividade para encontrarmos novos, mais rápidos e ainda mais seguros meios de fazer o comércio internacional, garantindo, de fato, o salvamento de muitas pessoas.
“A Logística Humanitária é um braço da logística que tem a função de planejar, implementar alguns procedimentos necessários para auxiliar a população, administrar os recursos e ter o conhecimento da operação no gerenciamento emergencial”, explica o site Ilos.
Veja abaixo algumas das principais diferenças entre a logística empresarial e a logística humanitária:
Entende-se, portanto, a logística como um ponto crítico para o sucesso da operação humanitária, surgindo a necessidade de aumentar a flexibilidade na cadeia de suprimentos para que haja uma resposta rápida e eficiente.
Dessa forma, com um impacto global não esperado imaginado causado por um vírus, a logística tem urgência de se fortalecer com planos de contingência baseados na logística humanitária, ou seja, que visa a vida humana em primeiro lugar.
O que ficará para o mundo
É fato que o mundo não será mais o mesmo. E nem a logística. E a resposta de “como ficará então?” é muito mais positiva do que podemos imaginar. Pois já estamos aprendendo de forma rápida e intensa a lidar com o imprevisto, usando a criatividade para criar soluções eficientes, adicionando flexibilidade aos processos que antes podiam estar engessados pela rotina operacional.
“O mundo mudou, e aquele mundo (de antes do coronavírus) não existe mais. A nossa vida vai mudar muito daqui para a frente, e alguém que tenta manter o status quo de 2019 é alguém que ainda não aceitou essa nova realidade”, afirmou o virologista Átila Iamarino à BBC Brasil.
Para o virologista, a preocupação com a economia é legítima e sua abordagem deverá buscar caminhos de adaptação ao novo cenário, de forma que as pessoas possam se manter isoladas sem que o comércio pare, transformando ações antes presenciais em digitais, como a compra online.
Este movimento de transformação digital já vemos sendo fortalecido, garantindo a sobrevivência de muitos negócios. Aqui no TECADI, por exemplo,nós reduzimos as escalas de trabalho, mas não paramos de movimentar os produtos. Isso justamente para auxiliar toda a cadeia logística do Brasil, fazendo chegar os produtos até o consumidor final. Novamente, a logística se faz presente para garantir o fluxo desses insumos, mantendo não só a saúde da população, que é imprescindível, mas também da economia dos países.
E em relação às mudanças em andamento, Pedro Moreira, presidente da Abralog, já se observa as mudanças positivas na prática, com um grau de colaboração entre as empresas jamais visto.
“Você tem a competição, que é saudável, mas estamos vendo concorrentes trocando ideias e colaborando em prol de soluções. Acho que o grande legado desse movimento é mostrar que a colaboração para o bem comum é importante, e creio que isso vai mudar a cultura das empresas”, afirma Moreira.
Para ele, por mais que as empresas continuem tendo seus objetivos únicos, com suas metas de lucro e de crescimento traçados, a sincronia de união e de fazer o bem para “a sociedade vai ficar enraizada nessa geração e nas demais, justamente pela complexidade do que estamos vivendo”.
Muitas lições serão aprendidas e transformadas em evolução do mercado, otimizando a vida em sociedade e fortalecendo toda a humanidade para qualquer situação que o futuro possa trazer.
A qualidade de vida e saúde se tornam a moeda principal de qualquer comércio, com o apoio de cadeias de produção e logísticas verdadeiramente humanizadas, onde todos – pessoas, mercados e países, ganham com a manutenção da vida.